quinta-feira, 26 de junho de 2008

MST cumpre acordo feito com o Governo e desocupa área do Projeto Salitre

As/os integrantes do MST que, desde 1º de abril do ano passado, ocupavam a área do Projeto Salitre, deixaram o acampamento neste final de semana. O movimento havia feito um acordo com o governo do Estado que estabelecia o dia 19 de junho de 2008 como último dia para as/os acampados/as deixarem a área do Projeto que hoje pertence a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (CODEVASF). Como parte do acordo, o governo disponibilizou uma área próxima a barragem de Sobradinho para que as famílias fossem assentadas e garantiu que dentro deste prazo seria providenciada a estrutura necessária para o assentamento de cerca de 700 famílias residentes no acampamento.
Segundo as/os agricultores/as do Acampamento Vale do Salitre, as novas terras não são tão propícias à agricultura irrigada, mas as famílias estavam contando também com casas, energia elétrica de qualidade, entre outras garantias asseguradas pelo estado. No entanto, segundo D. Francisca, coordenadora do setor de Frente de Massa do acampamento, no dia 19 (quinta) 'só havia máquinas limpando o terreno e mais nada'.
O poder público não cumpriu o que havia acordado, porém o MST desocupou a área do Projeto Salitre antes que fossem despejados, já que tratava-se do 7º mandado de despejo, como informou Rosy, funcionária da secretaria do MST em Juazeiro. Mesmo sem haver resistência por parte do Movimento, a escola e o galpão onde aconteciam as reuniões foram queimados sem que desse tempo de tirar a madeira que seria aproveitada nas novas construções. De acordo com Rosy, todo o processo de transferência foi acompanhado pela Polícia Federal que permaneceu no acampamento até domingo, quando foi feita a mudança das últimas famílias.
Sem água para trabalhar, sem energia e sem casas, as famílias estão tentando construir os barracos no novo espaço e terão até o dia 13 de julho para colher toda a produção agrícola restante na área do antigo acampamento.
Até o momento a atuação do estado se restringe à construção de cisternas e ao abastecimento diário de água potável. O espaço para o novo assentamento do MST fica ao lado do contorno que dá acesso à cidade de Sobradinho.


Érica Daiane

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Lágrimas

Lágrimas
‘"Nesse mundo onde o dinheiro fala mais alto e a hipocrisia está em todo lugar, estou aqui querendo me libertar.
A violência é o que me acaba já, cansei dessa lei do mais forte, aqui a vida anda lado a lado com a morte.
Se lutarmos pelos nossos direitos, somos dizimados como insetos.
Com os olhos encharcados de lágrimas, lágrimas tão tristes de uma vida não vivida, choro.
Tenho medo temo pelo futuro, acho até que nem, teremos futuro, pois se os jovens não são instruídos devidamente na infância, o que há de se esperar deles no futuro.
Certamente, a sociedade está criando bandidos para depois prendê-los.’’

terça-feira, 3 de junho de 2008

Mais uma vez o Quidé sai na frente

No dia 30 de maio, foi inaugurado o cursinho pré-vestibular comunitário, que tem como nome: Da periferia à universidade. Esta é uma nova iniciativa da Associação de moradores e amigos do bairro Quidé, em conjunto com o Naenda (Núcleo de Arte Educação Nego D’água).
Neste cursinho todos os professores são voluntários e residem no próprio bairro ou em áreas circunvizinhas. O pré-vestibular também conta com parceiros, a DIREC-15, que está ajudando na infra-estrutura.
Nossa reportagem conversou com Naldinho, presidente da Associação de moradores do bairro Quidé. Ele nos falou das expectativas dessa nova empreitada: “Estamos muito entusiasmados, acreditamos que o nosso povo deve e vai ocupar as instituições de ensino superior. Esse cursinho vai servir apenas como mediador e facilitador.”
Podemos traduzir esta iniciativa nas palavras Che Guevara: “A educação penetra nas massas e a nova atitude preconizada tende a converter-se em hábito, a massa vai assumindo-a como sua e pressiona os que não se educaram ainda...”

Rio São Francisco, o Nilo brasileiro

As margens do São Francisco há muito tempo vem sofrendo um processo de degradação ambiental. Isso é resultado de um desenvolvimento não compatível com a realidade das comunidades que estão às margens do rio.
Aqui em Juazeiro onde antes, em pequenas propriedades, famílias tradicionais retiravam o seu sustento a partir do cultivo de frutas e verduras adaptadas ao solo e clima da região, hoje essas pequenas propriedades “cederam” lugar para a construção de condomínios luxuosos.
Se não bastasse o fato de desmatar e deixar a margem desprotegida, há algo também preocupante que é a poluição das águas do Velho Chico.
Todo o lixo produzido por grande parte da classe média juazeirense residente naqueles condomínios - principalmente os localizados nas proximidades do bairro Pedra do Lord, no qual não há um sistema de tratamento de esgoto - é jogado diretamente ao rio e vai ao encontro da água, poluindo-a, e isso ocasiona a morte dos poucos peixes que ainda existem e até mesmo é um grave risco a saúde a nós que temos de usufruir dessa água contaminada.
Os movimentos sociais e toda a sociedade juazeirense que tanto necessita do São Francisco, esperam por dias melhores, contudo precisam ir à luta e com resistência, se não o nosso rio deixará de ser chamado de Nilo brasileiro pra denominar-se Tietê do nordeste.

INFORMAÇÃO A FAVOR DE QUEM?

Os meios de comunicação existem para ajudar a comunidade fornecendo notícias sobre tudo que acontece, seja a nível regional, nacional e até mesmo mundial.
No entanto a mídia comercial, isto é, a mídia que é patrocinada por empresas e pela elite, acaba distorcendo ou veiculando informações de forma extremamente sensacionalista, favorecendo, muitas vezes, aos interesses daqueles que lhe dão patrocínio.
De acordo com o dicionário Aurélio, sensacionalista é: “Pessoa que procura produzir grandes sensações”. Essa foi exatamente a forma como as emissoras, sobretudo a Globo fizeram com caso da menina Isabela, pertecente à classe média e assassinada, segundo a polícia, pelo pai e pela madrasta. A mídia transformou o crime de certa forma num romance divido em capítulos. Até hoje se fala dele, diferentemente de tantos outros casos de crianças pobres que além de sofrerem privações econômicas, ainda são vítimas de violência pelas mãos de seus parentes mais queridos. Ambos os casos foram hediondos.
A questão não é o simples o fato de um caso ter mais atenção que o outro, mas a forma sensacionalista com a qual as grandes emissoras tratam uma tragédia como essas.
Por isso devemos sempre nos perguntar: Que valores veiculam meios de comunicação como esses, patrocinados por indivíduos movidos por interesses econômicos?
A mídia alternativa, sobretudo o Vozes da Periferia, repudia esses veículos que todos os dias infiltram na cabeça do povo valores de uma classe dominante, valores que não são do povo, desrespeitando nossas culturas e sentimentos. Queremos um meio de comunicação que fale do povo, para o povo, educando-o e despertando a sua consciência. É isso que o povo quer.

Ninguém mais falou do caso Dorothy!

Pouco antes de ser assassinada com 73 anos, Dorothy Stong declarou: “Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a viver melhor numa terra, onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar!”
Religiosa norte-americana, naturalizada brasileira, pertencia às irmãs de Nossa Senhora de Namir, congregação religiosa fundada em 1804 por Santa Julie Biloarte (1751-1816) e François Blin de Boudon (1756-1858). Esta congregação reúne mais de duas mil mulheres que realizam trabalhos pastorais nos cinco continentes.
A Irmã Dorothy, participava da CPT (Comissão da Pastoral da terra) desde sua fundação e acompanhou com determinação e solidariedade a vida e luta dos trabalhadores do campo, sobretudo na região da transamazônica no Pará.
Dentre suas inúmeras iniciativas em favor dos mais empobrecidos, ela ajudou a fundar a primeira escola de formação de professores na rodovia transamazônica no Pará.
O grileiro Vitalmiro Bastos de Moura, identificado pelo suposto assassino com mandante do crime, foi absolvido em julgamento, alegando que não existe provas que o incrimine, enquanto que Rayfran Sales que trabalhava para o grileiro foi condenado por matar com seis tiros a Irmã Dorothy.
A luta dela por um desenvolvimento sustentável criou obstáculos para madeireiros e latifundiários, por isso ela recebia constantes ameaças de morte.
Segundo dados da CPT, foram assassinados 772 lutadores e lutadoras sociais do campo no Pará. Nos últimos dez anos foram registradas 459 ameaças de morte contra defensores da reforma agrária.
É hedionda a posição da justiça brasileira em não enxergar os verdadeiros problemas fundiários deste país, onde ativistas morrem e são presos por lutarem por seus direitos a terra, para morar, produzir e viver com dignidade.
No Brasil, como afirmava o filósofo Millôr Fernandes: “A justiça não só é cega, como sua balança é desregulada e sua espada sem fio”.